"Som de massa, ondas vibratórias num bloco só, ora integradas e ora dispersas, soltando e recolhendo para si.
Para adentrar essa massa malemolente é preciso foco e imersão, pôr a cabeça no travesseiro e deixar o corpo ser visitado por outras paisagens, membro por membro, célula por célula.
Paisagens sonoras que nos levam até às ervas rasteiras dos alpes andinos. Pachamama, musgo, líquen e lama. De repente, a larva quente e mole vira rocha dura. "Descontínuo" é tectônico, a suavidade do interior terrestre dialetizando com a violência vegetal da estepe.
A seguir, as coisas vão ficando leguminosas. O calor e a umidade em "Presa Solta" nos transporta para a languidez ventral no bojo de um barco. O que isso quer dizer é que quando enfiamos os dedos numa fruta, sentimos a suculência do tempo concentrado nela. É refrescante, nos dá a sensação de saciamento. Porém para os mais despertos, isso não apaga o enigma angustiante contido na aparição da fruta. A paisagem, quando se é um bom hospedeiro, é recebida de maneira respeitosa, equalizando as forças, onde a leveza e o peso pesado podem se relacionar sem matar a ambiguidade.
"Entre Passo", terceira estalagem, não somos visitados, mas sim invadidos por uma manada. Quando ela estoura, há revoadas e os humanos se atiçam tentando se proteger. Mas a humanidade aqui não passa de um sonzinho de flauta ao fundo em meio a desconstrução da máquina desejante que é a energia dos bichos soltos. Porém, a música é convidativa, a paisagem termina esperançosa.
A próxima viagem nos leva novamente para as regiões vulcânicas-oceânicas. Se fossemos um aborígene que pensasse a salvo da racionalidade ocidental, que só assimila as coisas através da ideia da não-contradição, diríamos que as larvas vermelhas e quentes batendo nas pedras são idênticas às ondas do mar. "Prato Médio" e "Solto e Contínuo" enfatizam ainda mais a arte da ambiguidade enigmática, onde uma coisa pode ser outra, e que está contida em todo o percurso sonoro. Essa viagem é essencial e propõe uma quebra que nos leva para longe do mundo sedento por sentidos únicos.
Frente às paisagens sonoras e enigmáticas que visitamos, resta apenas a pergunta sempre aberta. Se há uma terapêutica na parada, uma intenção por trás das composições, não saberemos, pois só intuímos.
Realmente, grandes épocas exigem grandes feitos. É de fato quando o clima está tenso e o cú apertado de medo que precisam surgir grandes ações."
- Por Bruno Pastore
credits
released February 5, 2021
Gravado, mixado e produzido por Marco Nalesso e Luciano Valério. Masterizado por Psilosamples. Arte por Waldomiro Mugrelise. Texto por Bruno Pastore. Animação e criação de vídeo por Ninguém.
DSM040 • 2021
MNTH is a musician and music producer from Guarulhos (São Paulo), Brazil. With four albums released: "Iminente" (2022), "MNTH" (2021), and "Te Espero no Melhor das Formas" (2013), the musician just released "Lume Púrpuro" in April 2024.
Inspired by Rio de Janeiro’s iconic Carnival Parades comes this epic synth symphony from Brazilian artist Fordmastiff. Bandcamp New & Notable Dec 3, 2022
The hushed songs on “Céus” summon, “a sacred place to which we confide our fears, desires, and search for answers.” Bandcamp New & Notable Aug 22, 2022
Making self-described “immersive music,” Brazil’s cøelho constructs hypnotic songs from rippling electronic sounds. Bandcamp New & Notable Feb 13, 2021